BLOGAGEM COLETIVA - Minha idéia é meu pincel

>> quinta-feira, 25 de novembro de 2010

tela de Frida Kahlo - Auto Retrato


Parecia estar escrito: sua vida não seria nada fácil.
Logo após o seu nascimento, sua mãe engravidou novamente e não pode amamentá-la. Para suprir essa falta, contrataram uma ama de leite, mas esta simplesmente “fazia seu serviço”. Sentava, amamentava, levantava e ia embora. Carinhos, afagos? Nada.
Essa falta de atenção provavelmente iria se mostrar um dia.
Era muito apegada ao pai, que todo dia após o trabalho, se refugiava num canto da casa para rabiscar umas telas. Não tinha feito nenhum curso de pintura, mas gostava da mistura das tintas, do colorido aparecendo nos desenhos sem forma na tela. Ela ficava ali olhando aquela busca constante de algo que nunca aparecia completamente.
Ainda criança foi afetada pela paralisia infantil. Não entendia direito aquilo que estava lhe acontecendo, mas tão logo percebeu que não conseguia andar direito, soube que iria sofrer, e assim que voltou à escola começou a ver os risinhos escancarados na cara de seus colegas e logo ganhou o apelido de “perna de pau”.
Não era fácil conviver com isso mas não tinha o que fazer. Sofria quieta, calada no seu canto. Na adolescência começou a tomar consciência do seu corpo, do seu rosto, sua imagem focada no espelho. Se achava feia, sem graça e ainda por cima, mancava.
Não tinha amigos para conversar e fazer confidências.
Mas tinha uma coisa que gostava muito. Museus. Os dois que tinham em sua cidade ela já tinha explorado por diversas vezes. Começou então a se interessar por livros que falassem sobre eles e assim foi conhecendo diversos pintores.
Era infeliz e não sabia o que fazer para melhorar isso.
Mas a vida - que é uma caixinha de surpresas - ainda não tinha lhe mostrado todas as garras. Um dia, voltando da escola, o ônibus em que estava derrapou, bateu forte e ela foi arremessada longe como um pacote caindo de um penhasco.
Sofreu diversas fraturas, teve o corpo perfurado de tal forma que lhe deixou incapacitada para ser mãe. Mas isso ela ainda não sabia. Passou por muitas cirurgias e teve que ficar de cama por muito tempo.
Quase sempre sozinha, com dores que atravessavam seu corpo, sem ninguém para lhe ouvir o choro, buscou ajuda nos seus livros antigos, voltando a visitar os museus, imaginando que isso pudesse fazê-la esquecer, pelo menos um pouco, todo sofrimento.

E, numa tarde fria e chuvosa ela começou a ler e parou: As coincidências eram muitas. Aquilo a tomou de uma tal forma que ela queria saber tudo sobre essa pintora: Frida Kahlo.


Suas vidas eram parecidas, a doença na infância, o acidente na adolescência, a falta de beleza e mesmo assim ela retratava aquele rosto, colocava na tela as nuances da tinta e da dor e aquilo tudo era belo, era arte.

Pensou que gostaria de ter aprendido a pintar. Conseguiria fazer seu auto retrato?
Pensava naquilo quase que diariamente. Um dia, aproveitando a presença do pai, pediu a ele que lhe emprestasse sua caixa de tintas e lhe arrumasse um espelho.

O pai então, feliz por ver a filha empolgada com alguma coisa, trouxe também um cavalete, para que ela pudesse pintar.
Ela agradeceu mas recusou. Pediu ajuda para levantar um pouco as costas, e com ajuda dos travesseiros quase dava para ficar sentada. Colocou almofadas nas pernas onde apoiou o espelho.

Ao seu lado a caixa de tintas e uma palete. Escolheu um pincel, misturou algumas tintas e olhando fixamente para o espelho à sua frente, começou a pintar ........o próprio rosto. Primeiro a testa. Gostou da cor e da textura. Com um pincel maior foi mesclando tintas na face. Os olhos foram marcados com um pincel mais fino, mas com traços fortes. As sobrancelhas receberam tinta escura de um pincel chato. Os lábios foram pincelados com tinta carmim.
Misturou mais algumas tintas e com ela foi tingindo pequenos pontos da face. Chamou pelo pai que olhou assustado pra tudo aquilo e pediu a ele que tirasse uma foto.
Gostou do resultado e sorriu.
Ainda não estava feliz e também não sabia se retratar em tela, mas já tinha algo para fazer e amenizar a sua dor. 

Esse texto faz parte da Blogagem Coletiva "Minha Idéia é meu Pincel" proposta pela Glorinha do Café com Bolo - iniciada em 28/10.

beijos

26 comentários:

Astrid Annabelle 25 de novembro de 2010 às 00:25  

Macá!
Eu li a história dela e compreendi porque não me afinei com a energia da tela.
É muito triste...pesada...etc.
Infelizmente contrario os críticos internacionais...fazer o que...é uma questão de empatia!
Beijos querida!
Astrid Annabelle

Glorinha L de Lion 25 de novembro de 2010 às 00:29  

Pois eu Macá, diferentemente da Astrid, me identifico demais com ela. Acho que deveria ser eleita a nossa padroeira, pois retrata a força que existe em cada mulher. Belo post, beijos,

Beth/Lilás 25 de novembro de 2010 às 00:33  

Hello, Macá!
Esta foi Frida Kahlo, uma mulher de garra e determinação que levou a sobrepor-se a todas as controvérsias em sua vida e suas eternas dores.
Uma linda história!
bjs cariocas

Suziley 25 de novembro de 2010 às 05:47  

Oi, Macá:
Cada um sabe das suas próprias dores, mas essa tela me transmitiu muita tristeza e nenhuma inspiração. Mas, gostei da sua participação. Um bom dia, beijos :)

chica 25 de novembro de 2010 às 07:54  

Carregada de dor essa pobre mulher...Um beijo pra ti, tudo de bom,chica

pensandoemfamilia 25 de novembro de 2010 às 08:26  

Oi querida
Mostrastes alguns dos caminhos desta mulher de fibra, que ao mesmo tempo nos provoca mal estar por tanta dor , mas também muito empatia. Guerreira, exemplo de superação e vida.
bjs

orvalho do ceu 25 de novembro de 2010 às 08:52  

OI, querida Macá
Bárbaro!!!
Confesso que a sua história de vida me deixou sensibilizada... vc a definiu numas palavras que pareciam estar saindo do seu próprio interior e lábios.
Frida ficaria feliz, pela primeira vez na vida, se lesse vc... Parabéns!!!
Bjs de paz e excelente fim de semana pra vc.

Unknown 25 de novembro de 2010 às 12:22  

Macá

Muito boa a sua participação, pois retrata com fidelidade a vida desta brava mulher.

Eu identifico-me bastante com a pintura dela. De todas as escolhidas pela Glorinha, foi das que mais me agradou, pois tive a sorte de ver 3 grandes exposições dela, ao longo dos anos.

Beijo

António

Palavras Vagabundas 25 de novembro de 2010 às 12:32  

Maca,
a vida da Frida é tão surreal que parece ficção.
bjs
Jussara

Lúcia Soares 25 de novembro de 2010 às 13:04  

Macá, ela se pintava muito, e dizia que era porque se conhecia muito. Tá certa.
Sofreu muito,amou muito, viveu intensamente, dentro da sua incapacidaade e dor, buscando na pintura afastar seu medo da vida.
Beijo!

Socorro Melo 25 de novembro de 2010 às 13:10  

Oi, Macá!

É uma história triste, a da Frida, mas, também, um exemplo de superação, de determinação.
O sofrimento imprimiu-lhe marcas profundas, o que tornou, consequentemente, seu trabalho mais nobre, mais significativo.

Um grande abraço
Socorro Melo

Cristina Paulo 25 de novembro de 2010 às 13:59  

Macá, excelente texto! Frida é uma das Mulheres da minha vida...por tudo o que ela simboliza e pela sua coragem e força! Luz e sombra, dualidade...
Namasté!

Lu Souza Brito 25 de novembro de 2010 às 14:03  

Macá, tudo bem?

Eu compartilho a mesma opinião da Astrid.

Vou ser sincera....nem acabei de ler toda a história dela aqui porque me deixou angustiada.

Um abração!
Lu

Isadora 25 de novembro de 2010 às 14:47  

Oi Macá, duas histórias de dor, tristeza e superação.
Essa semana foi muito difícil percorrer essa tela e deixar que meu olhar fosse além. As histórias ouvidas e lidas não permitiram.
um grande beijo

Manuela Freitas 25 de novembro de 2010 às 15:08  

Olá Macá,
Conhecendo a vida que teve Frida, de imediato se compreende a sua arte, ela esparramou tudo nas suas telas, usando um simbolismo muito pessoal, onde não faltaram elementos também do seu país: cor, flora, fauna...
Uma mulher impressionante!
Beijos,
Manú

Iram Matias 25 de novembro de 2010 às 15:27  

Olá Macá,

Muito bom o post. Uma exposição com os quadros dela está aqui em Viena. Fui visitar e achei muito interessante, mas a gente sai de lá meio filosófica, entende? Talvez também um pouco pesada. Já havia visto o filme e sem dúvida, é uma história exemplar.

Beijos, cheiro, abraço...


Iram,

Susana Vitorino 25 de novembro de 2010 às 21:34  

Eu estou com a Glorinha!

Querida Macá... sua narradora magnífica. Fico rendida sempre que venho aqui!

Parabéns!

Viajo sempre nas suas histórias.

Abraço Fraterno*

Nilce 25 de novembro de 2010 às 23:33  

Adoro seus contos, e este relacionado ao sofrimento e força de Frida ficou perfeito.
Parabéns!

Bjs no coração!

Nilce

Luma Rosa 27 de novembro de 2010 às 00:11  

Alguns se identificam na alegria e outros nas dores! Adorei a forma que usou para nos mostrar a pessoa que era Frida e o porque de tanta angústia. Além de tanto sofrimento, dá para imaginar o que era ser "Frida" em 1925, por exemplo! Foi neste ano que minha mãe nasceu e ela contava como na sua adolescência, as "heroínas" eram alento e representavam esperança para a mudança que somente viria mais tarde. As mulheres caminharam a passos de formiga, conquistando espaço a espaço e Frida dentro da sua condição de "artista" - mesmo que diziam "uma mulher diferente das outras" e nascida quase no início de 1900 é admirada até hoje! Vê? Depois dizem que mulher não tem cumplicidade! Esse tipo de comentário parte como intriga, somente para nos separar! (rs*) Bom fim de semana! Beijus,

Unknown 27 de novembro de 2010 às 10:27  

Olá Macá

Por saber que frequenta o blogue «Navegante do Infinito», da Astrid Annabelle, deixo aqui este convite:

Bom dia de sábado,

Este é um convite para participar na entrevista colectiva que estou a preparar para a Astrid Annabelle, do «Navegante do Infinito». Publiquei hoje um post com esse convite.

Seria um prazer contar consigo nesta entrevista coletiva à amiga e bloguista Astrid.

Por favor, clicar aqui para aceder ao post onde peço que deixem as perguntas.

Abraço,

António
«Cova do Urso»

Anônimo 27 de novembro de 2010 às 20:43  

Couldnt agree more with that, very attractive article

Maria Santos 27 de novembro de 2010 às 21:16  

Que história , mistura dor, sofrimento, força e porque não superação essa mulher é um exemplo de persistência e talento. Frida todos nós temos que ser um pouco como ela.
bjs

Fernanda Reali 28 de novembro de 2010 às 12:52  

Macá, tu ganhaste uma lousinha magnética La Pomme!

Me passa teu endereço e enviarei para ti

http://fernandareali.blogspot.com/2010/11/surpresas-e-resultado-do-sorteio.html

beijoooo

She 28 de novembro de 2010 às 19:28  

Adorei, Macá, qdo foi aniversário dela, onde o google fez uma homenagem, resolvi postar em meu Cantinho por que achei a vida dela uma loucura, e muito rica, apesar de muito triste... Beijo, beijo!
She

Anônimo 14 de dezembro de 2010 às 19:18  

nice post. thanks.

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