O japonês e o papel de bala

>> sexta-feira, 18 de março de 2011

Antes de começar o post de hoje, queria dizer uma coisa pra vocês que me lêem e me seguem.
Meu marido me questionou hoje, perguntando se não era chato eu não escrever coisas com minhas próprias palavras, ao invés de publicar coisas que leio.
Sim, eu disse, é chato, mas, por outro lado, eu estou com um projeto de trabalho que quero muito que dê certo, só que isso toma tempo. Então, ou eu desisto do blog por uns tempos, ou faço o que tenho feito que é publicar coisas escritas por outras pessoas. Mas também não posto por postar, eu procuro, claro, colocar coisas que eu acho que as pessoas possam ter algum interesse.
Tenho procurado ler os blogs (não gosto de me imaginar perdendo coisas); às vezes dá tempo de deixar um comentário, outras, leio e passo pra outro e tem dias que realmente não dá.
Se vocês puderem não ficar muito bravas comigo, vou ficar feliz.
E hoje ao ler o jornal, achei que esse artigo tem tudo a ver com o momento atual.

O japonês e o papel de bala

CAMARADA TEM à disposição a malha de transporte coletivo mais moderna do mundo. A dois minutos da porta de casa ele toma um trem-bala, que sempre chega e sai no horário e atinge velocidades de até 500km/h e que o levará ao seu trabalho em uma cidade vizinha.
Só que, nesse dia, por conta de um soluço geológico ocorrido há milhares de quilômetros de distância, lá onde Iemanjá manda prender e soltar, ele acaba morrendo afogado. Enquanto lê a edição do dia do "Asahi Shimbum" sentadinho na poltrona do trem-bala.
Para adicionar em surrealismo à sequência de acontecimentos, desta vez não precisamos nem mesmo imaginar a figura de Godzilla sacudindo os prédios de Tóquio ou pisoteando as centrais nucleares. Não necessitamos do blá-blá-blá da militância ecológica de Cinemark, que está usando a ocasião para culpabilizar as vítimas: "Quem mandou mexer com a mãe Natureza?", bradam eles. "Agora os japoneses caçadores de baleias que aguentem a ira de Kami" (divindade do xintoísmo com equivalência a Iemanjá).

Você pode ser fã de "Avatar" ou pode detestar os que tomam partido apaixonado na discussão que separa a humanidade entre presas e predadores. Seja como for, já deu para perceber que nós, os tapuias, e James Cameron e seus conterrâneos, todos fazemos parte de um mesmo grupo. E que os japoneses que vimos nos últimos dias tremendo nas filas, sem saquear uma única loja, sem se desesperarem e capazes de respeitar seus velhos mesmo na situação mais adversa imaginável pertencem a um outro mundo muito distante do nosso.

Não preciso dar "rewind" e chegar às cenas mais degradantes ocorridas nos dias que se seguiram ao furacão Katrina e às enchentes de fim de ano na serra fluminense. Hoje mesmo, no parque próximo a minha casa, vi um casal andando alegremente em uma ciclovia que não chega a comportar uma bicicleta indo e outra vindo em sentido contrário. Será que eles não viram as cenas das vítimas do tsunami em fila, envoltas em cobertores, todos pacificamente esperando por suas tigelas de arroz, pouco ligando para suas vontades pessoais e respeitando a coletividade como se ela fosse uma entidade suprema?

É claro que não terá sido um golpe de pena do general Douglas MacArthur que deu ao Japão sua maravilhosa Constituição logo após a rendição do imperador Hirohito e, junto com ela, a capacidade organizacional da população.

São séculos e séculos se organizando em sociedade, não é fácil aposentar a clava, somos testemunhas vivas disso. Doenças medievais, na forma de peste e tifo, chegam no esteio da onda gigante e do terremoto para testar a maturidade da população mais uma vez. Será que a serenidade dos japoneses vai prevalecer?

O japonês costuma pagar caro por abrir mão da individualidade em favor do coletivo. São os karaokês para extravasar, é aquele uísque todo consumido pelos executivos, nem vamos mencionar a cerveja Kirim tomada aos baldes.

Mas, em um momento como este, nós, que somos tão diferentes, podemos apreciar em nome de que eles se sacrificam tanto.
E conseguimos entender que a bagunça toda começa ao jogarmos o primeiro papel de bala no chão.
(artigo de Bárbara Gancia, publicado hoje no jornal Folha de São Paulo, caderno Cotidiano)


beijos


6 comentários:

Palavras Vagabundas 18 de março de 2011 às 21:52  

Macá, não me incomoda nada você postar o que gosta e lê, para mim sempre são textos bem escolhidos como esse sobre o papel de bala.Lógico que fico esperando algum texto seu, sou sua fã.
bjs
Jussara

Astrid Annabelle 19 de março de 2011 às 16:43  

Macá! Olá!
Adorei este texto...muito bom.
Gosto dos seus igualmente. Quando puder e der escreva...apesar que compreendo perfeitamente esta falta de tempo...ando na mesma.
Sentir sua presença já é bom demais.
Beijo grande
Astrid Annabelle

Adriana Holanda Tavares 21 de março de 2011 às 00:17  

BoA NOITE!!!
Meu nome é Adriana de Holanda Tavares, criei um blog junto com meu esposo para ajudar pessoas que precisam, maiores informações entra lá: chabebevirtual.blogspot.com precisamos que você contribua, com divulgação ou com um mimo... vai lá, como diz o poeta: FICA SEMPRE UM POUCO DE PERFUME NAS MÃOS DE QUEM OFERECE ROSAS, NAS MÃOS QUE SABEM SER GENEROSAS

Nilce 22 de março de 2011 às 14:59  

Oi Macá

Saudades de você.
Para mim o que você posta tem sempre importância. Você tem o cuidado de procurar os textos mais interessantes e que nos agradam ler.

Bjs no coração!

Nilce

Doces Abobrinhas 23 de março de 2011 às 13:08  

Adorei a leitura e mais ainda chegar aqui, um bj doce e apareca nas Abobrinhas
Roberta

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