Luis Fernando Veríssimo - Essa é verdadeira
>> terça-feira, 1 de fevereiro de 2011
Tem rodado pela internet - imagino que você também tenha recebido - um e-mail falando sobre o BBB, como sendo do Luis Fernando Veríssimo.
Bom, ele já negou, claro; não é o tipo de crônica que ele escreveria.
Então hoje resolvi postar um conto que, esse sim, tenho certeza, foi ele quem escreveu:
Bom, ele já negou, claro; não é o tipo de crônica que ele escreveria.
Então hoje resolvi postar um conto que, esse sim, tenho certeza, foi ele quem escreveu:
R E A L I S M O
O escritor estava diante da tela vazia do seu computador quando a mulher entrou voando pela janela. Ele não deu atenção à mulher e continuou olhando fixamente para a tela. Precisava começar um romance. Precisava escrever pelo menos um capítulo. Precisava de uma frase! E não tinha nem uma idéia. A mulher bateu no seu ombro.
- Quié? - disse ele, sem se virar.
- Você não me viu chegar?
- Vi, vi.
- E então?
- Então o quê?
- Um começo para o seu romance. Escritor diante do computador. Entra uma mulher voando pela janela.
- Não serve.
- Como, não serve? Olhe pra mim. Estou nua. Tenho uma tatuagem na nádega. Um coração, uma âncora e um nome: "Capitan Carrancho". Só aí já tem um capítulo. Só aí já tem um romance.
- Você não soube? O realismo mágico morreu.
- O quê?
- Ninguém mais voa, ninguém mais em 300 anos de idade ou 200 metros de altura. Acabou.
A mulher sentou-se numa poltrona, desanimada.
- Pô.
- De qualquer maneira, obrigado.
- Tá.
Daí a pouco, ela falou de novo.
- E se, em vez de um romance, você contasse uma experiência sua, uma experiência mística na vida real? Na ficção não pode mais, mas não-ficção pode. A realidade é o último reduto da metafísica. Eu posso ser seu anjo da guarda.
- Eu nunca tive uma experiência mística.
- Está tendo agora!
- Não é a mesma coisa. Você só está se fazendo passar por anjo. E onde se viu anjo tutuado?
- Eu renuncio à tatuagem. Nunca conheci o Capitan Carrancho. Não tenho nem bunda!
- Não. Obrigado, mas não.
- Oquei... - disse a mulher, resignada. - Tchau.
O escritor não teve tempo de avisar. Quando gritou "Pela janela não! Você não voa m..." já era tarde. Ela já tinha saído. Ele correu para a janela. O corpo dela estava estendido na calçada, lá embaixo. Já havia pessoas à sua volta. Alguém olhava para cima. E apontava para ele.
O escritor voltou ao computador. Ficou esperando. Dali a pouco bateram na porta. Ele foi abrir. Era um policial.
- Foi daqui que caiu uma mulher nua, agora há pouco?
Está bem, pensou o escritor. Na dúvida, apele-se para uma intriga policial. Depois a gente pensa em como desenvolver. O importante era começar.
- Depende. Como é a mulher? - perguntei, notando que ele não entendeu a ironia.
(Essa crônica faz parte do livro "novas Comédias da Vida Privada" de Luis Fernando Veríssimo, 123 crônicas escolhidas).
beijos
7 comentários:
Veríssimo é espetacular.
Obrigada por compartilhar, Macá.
Bjs no coração!
Nilce
Macá,
Realmente tem muito texto rolando nesta Net que são atribuídos ao grande mestre Veríssimo.
Esse daí é muito bom mesmo e com a veia inteligente do autor.
bjs cariocas
adoro ele, muito boa a postagem bjs dessa sua amiga com muita coisa mesmo...rs
Oi Macá, o Veríssimo é ótimo, vc acredita que postaram o no site da Arquidiocese, www.aves.org.br, o texto como se fosse dele mesmo? Mesmo de férias corri para o telefone e falei com a gerente de marketing que ele havia escrito nos grandes jornais do país, inclusive no jornal A Gazeta, aqui de Vitória, que o texto não era dele. Preferiram deixá-lo lá no site explicando que ele havia divulgado não ser o autor.Mas é ótimo quando temos certeza da autoria. Bjs
Macá,
Eu já recebi esse texto, que trata do BBB, umas tres vezes, essa semana. Aliás, gostei muito.
É interessante o conto do Veríssimo.
Gd. abraço
Socorro Melo
SEmpre ótimo de se ler. Agora diga-me o porque de estar rolando esse assunto do BBB ao Luis Fernando Verissimo?
Não tem nada mais para inventar.
Beijos no seu coração
Macá
Cadê você?
Estou te esperando lá no meu blog. Venha antes que briguem comigo. rsrs
Bjs no coração!
Nilce
Postar um comentário