Diário da Dilma - III

>> terça-feira, 13 de dezembro de 2011

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Bem, eu rio muito cada vez que leio (ou releio). 
Já publiquei o de janeiro e o de fevereiro. Vamos agora ao mês de março.
Todos foram publicados pela revista PIAUI.


A musa fashion e o lacaio da burguesia

1º DE MARÇO_Começou o mês das mulheres. Para comemorar, cozinhei no programa da Ana Maria Braga. Escolhi omelete para romper mais uma barreira: quero acabar com a ignorância machista dos que chamam o prato de “o” omelete. 
Pena que o Tarcísio Meira não estava no Projac. Sou louca por ele. 
À noite, vi o teipe do meu desempenho. Me achei rechonchuda, com papada. Vou começar uma dieta que vi numa Marie Claire. Chama “Detox”, e a revista diz que “enxuga o corpo e deixa a pele iluminada”.
3 DE MARÇO_Guido ligou logo de manhã para avisar que o PIB cresceu 7,5%. Fiquei tão animada que saí deslizando pelo salão. Mamãe, que preparava uma vitamina de kiwi com gérmen de trigo e mel da dieta do Detox, comentou que não me via tão alegre desde que me levou na TV Tupi para ver o programa Pim Pam Pum. A vitamina era horrível. 
Acho que vou começar o regime só depois do Carnaval.
5 DE MARÇO_Todo mundo acreditou que vou passar o Carnaval na Barreira do Inferno. Vou é cair na gandaia. A fantasia de freira ficou um pouco apertada, mas coube. 
Fiquei hospedada na casa de umas amigas, no Catete. Chamei o esconderijo de “aparelho” e brincamos de usar nomes de guerra. Escolhi “Rebeca” para mim. Fomos ao Cordão do Bola Preta.
Começo a dieta na Quarta-feira de Cinzas.
10 DE MARÇO_Minha tia preparou um mix de linhaça, gergelim e semente de girassol. Agora, vai! Religuei o celular e havia oito mensagens do Lula e duas do Eike. 
À noite, me peguei pensando no Lobão e bateu uma melancolia. Sinto que estamos nos afastando. Resisti ao ímpeto de pegar o pote de sorvete de flocos e fiquei ligada no BBB mascando damasco seco.
11 DE MARÇO_Liguei para o Lula para pegar dicas de como lidar com as centrais sindicais. O Lula é safo: falou para eu dar um abraço apertado no Paulo Pereira e chamá-lo de Paulinho. E para usar a palavra “peãozada” e prometer um churrasco no Torto.
15 de março_Me vi na Hebe. Não foi à toa que minha mãe ficou louca com as joias dela. E que plástica benfeita. Mas fiquei com vergonha de perguntar quem fez. Estou impressionada com minha desenvoltura. A entrevista foi café com leite. Tirei de letra. Já me sinto preparada para discursos de improviso e usar metáforas culinárias. Acho que vou dispensar o João Santana, um baiano muito do careiro.
16 DE MARÇO_Estou aflita com o Japão. Mas é um belo pretexto para pedir ao Lobão um relatório sobre energia alternativa. Marquei um jantar para quinta. Vou pedir sopa de quinoa com legumes. Quero montar a mesa, à luz de velas, colada no Abaporu.
Convoquei uma reunião com a equipe que vai me assessorar para receber o Obama: Palocci, Celso Kamura e o Santana. Chegamos a um consenso de que devo vestir vermelho para mostrar que não vou me render à paleta de cores capitalista. O Kamura recomendou usar um xale para sugerir que posso ceder em alguns pontos. 
Quase tive um ataque quando vi o Mercadante dando opinião sobre as usinas de Angra. Só me faltava essa! O Lobão, tão didático, tão seguro, já tinha explicado tudo. Vou dar uma enquadrada no Mercadante. Como se já não me bastasse o Mantega, que não sabe falar com o mercado, só com porteiro de prédio.
Geraldo Alckmin veio me ver. Pedi para colocarem o olho grego que ganhei da Hebe debaixo da mesa. Comecei o papo perguntando se a filha dele tinha arrumado um emprego depois da falência da Daslu. Na despedida, perguntei como estava o Kassab. Ficou com cara de tacho, o picolé de chuchu.
Estou com os pés inchados. Acho que é retenção de líquido.
17 DE MARÇO_Me encontrei com mais uma loira pop. Tal de Shakira. Não fazia ideia de quem era. Falei em espanhol e ela ficou encantada com a minha fluência. Pena que não soubesse guarânias. O Palocci queria porque queria ser apresentado à loira. Nã-na-ni-na-não! Como se eu não conhecesse a peça...
Soltei minha segunda metáfora: disse que o crescimento econômico não pode ser um “voo de galinha”. Estou besta de ver como isso é eficiente: saiu em todas as manchetes. 
Kamura veio com a ideia de convidar FHC, Itamar, Collor e Sarney para o almoço com o Obama. Concordei. Pra quê! Michel Temer ouviu e tentou botar na lista a sogra, três tias, cinco vizinhos e doze diretores de estatais. Tasquei-lhe uma metáfora e uma metonímia. Lobão desmarcou o jantar na última hora porque madame Nice, a sua digníssima esposa, estava com enxaqueca. As mulheres realmente têm sexto sentido.
Dia de dormir cedo. Obama e a Michelle chegam às sete e meia da matina. Americano tem mania de fazer tudo cedo. Eles jantam às seis da tarde, pode? Ô gente jeca!
A balança informa: emagreci 237 gramas. Estou nos trinques.
19 DE MARÇO_Impressionante a opulência da comitiva americana. Há um trailer, escondido da imprensa, só com vestidos para a primeira-dama. Lá dentro, dizem, há dois galões de laquê. Pedi para o general dos arapongas investigar essa tecnologia.
Assim que subiu a rampa, Obama roçou aquele beição no meu cangote e sussurrou, com voz grave: “Hello, prisidenta.” Quase tive um piripaque. Arrepiada dos pés ao topete, só retomei a consciência quando reparei no sapato chinfrim da Michelle.
Modéstia à parte, dei um banho na Michelle. Ela chegou com um vestidinho, meu Deus, que não dá para ir na feira! Depois inventou um brocado dourado. Coisa cafona, brilho de dia. E o backsidedela, então?
E falei, falei tudo que estava aqui na garganta. Eles querem vender pra nós, mas não querem deixar a gente vender pra eles. É, bebé, mamar na gata você não qué, né? Falei mesmo. Lógico que com educação porque senão o Patriota ia me atormentar.
O Lula fez forfait. Sempre querendo aparecer, mesmo não aparecendo. Melhor assim, porque eu ia ter que fazer sala para a Marisa, que não entenderia o trocadilho que soltei em cima do Obama: I like Eike.
O Fernando Henrique foi um doce comigo. Que homem fino e bem-apanhado. Pena que seja um lacaio da burguesia.
Vou tomar um sal de frutas porque essa ideia do Patriota de baião de dois com picanha e vinho Valduga foi de matar. Estou entalada até agora.
20 DE MARÇO_Minha mãe ficou superamiga da sogra do Obama. Trocou várias receitas. Preciso saber como a Michelle mantém o peso. Lula mandou um SMS: “Presidenta, desculpe a ausência. O pneu do carro furou quando eu saía de casa.” Nem vou responder.
Engordei 540 gramas. Maldita Detox!
25 DE MARÇO_Obama ligou. Constrangido, disse que a Malia estava com suspeita de dengue. Antes que eu pudesse responder, Michelle tomou o telefone das mãos dele. Estava muito nervosa.
26 DE MARÇO_Essa confusão do Kassab vai sobrar para mim! Mais um apoio ao governo e mais pedido para ajudar os aliados, sei... Esse pessoal pensa que DAS dá em árvore?
27 DE MARÇO_Recebi minhas amigas do cinema. Notei que a Marina Person botou um vestidinho vermelho parecido com o que usei quando o Obama veio me ver. Reparei também que algumas estavam de xale. É a Dilminha, musa fashion do Planalto!
29 DE MARÇO_Recebemos a notícia no Porto, quando o Lula contava o desfecho de uma piada de português. O Santana, no telefone, gritava, desesperado: “Vocês precisam chorar! Chorar muito!”  Não sei se vou conseguir: fico uma arara toda vez que penso que ele não reconheceu a filha.
Continua na semana que vem...
beijos

3 comentários:

Beth/Lilás 13 de dezembro de 2011 às 23:42  

Macá, essa série que você nos apresenta por aqui está uma piada verdadeiramente, tô adorando!
"É, bebé, mamar na gata você não qué, né?" há tempos não leio ou ouço esta expressão e parece mesmo a Dilma falando. kkkkkk
beijo carioca

Roselia Bezerra 16 de dezembro de 2011 às 06:10  

Olá, querida
Cada um tem a agenda que aprecia...
Bjm de paz

sheyla xavier 16 de dezembro de 2011 às 07:55  

Macá, muito legal esse diário, cada um que leio, me faz rir mais do que o outro.
Excelente final de semana,
bjokinhasss

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