No caso, com certeza!

>> quinta-feira, 17 de novembro de 2011

Ah! aposto como vocês já estavam com saudades dele!!! Mais de um mês ausente? Sumiu assim sem dizer nada?
Mas hoje, mesmo sem sol, ele retornou para tirar de nossas vidas (não o bolor, esse acho que só a partir de amanhã), do nosso semblante, vários sorrisos, ou porque não, divertidas gargalhadas.
Com vocês, novamente, Antonio Prata. Não é pra gostar, muuuuiiiitttooo???

* * *
Se ele disser que 'no caso, Aspirina
a gente não vai tá tendo, hoje', a
coisa muda completamente de figura
* * *

Equivoca-se quem pensa que falar bem é falar claro. A arte da retórica reside, na verdade, na habilidade de confundir. Afinal, se digo algo e você entende de cara, vai logo se achando mais inteligente do que eu: mau negócio. Se, contudo, sou capaz de temperar as frases mais simples com um molho de obscuridade, com uma calculada pitada de empulhação, o ouvinte pensará que sei mais do que revelo: ponto para mim.
     Vejamos: você entra numa farmácia, pergunta se tem Aspirina e o funcionário responde com um peremptório "não". O que você pensará? Que aquela é uma farmácia ruim. Se, porém, ele disser que "no caso, Aspirina a gente não vai tá tendo, hoje", a coisa muda completamente de figura. O "no caso" sugere que, numa situação normal, ele teria Aspirina. Logo, "hoje", estamos numa situação anormal. Qual seria essa situação? Haveria um surto de enxaqueca, no bairro? Boatos de que a Copa e as Olimpíadas levariam à falta de ácido acetilsalicílico teriam desencadeado uma busca frenética pelo produto? Você não sabe, ele sabe, e, num segundo, o que era uma farmácia vagabunda transforma-se numa farmácia sob estado de exceção, enquanto você, em vez de um cliente insatisfeito, torna-se um náufrago à deriva no mar da especulação.
     Convencido de que aquele é um estabelecimento digno, de que só não tem os comprimidos de que necessita por conta dos misteriosos eventos pregressos, você resolve dar uma segunda chance. Em vez de ir à farmácia da outra esquina, pergunta se haverá Aspirina, no dia seguinte. O funcionário sorri: "Com certeza!".
     "Com certeza!" é irmã de "no caso". Ambos são filhos da obscuridade com a empulhação. "No caso" é o rebento discreto, melancólico e introspectivo, "com certeza!" é falante, solar e brincalhona. Os dois, contudo, trazem a mesma carga genética: fazem-nos crer que, por trás da vaguidão ou do entusiasmo escondem-se importantes e desconhecidas informações.
     Vejamos: se o farmacêutico respondesse com um mero "sim", o que você pensaria? Que as Aspirinas chegariam amanhã por alguma razão prosaica, talvez porque toda quinta-feira elas chegam e não há aí nenhum mérito do funcionário. Já o "com certeza!" instaura aquele estado de exceção: tamanho júbilo e segurança sugerem que a chegada das Aspirinas é o resultado de grande esforço. Você imagina o farmacêutico ameaçando o distribuidor, dizendo que se não receber o carregamento até as oito da manhã vai fechar um acordo de exclusividade com o Bufferin; você o vê mandando comprar Aspirinas em outras farmácias, no meio da madrugada; vislumbra-o pedindo para um primo mandar dezenas de cartelas via Sedex 10, diretamente da matriz, na Alemanha -e, por um momento, acredita que ele seja capaz até de acabar com a greve dos Correios.
     Que beleza é a oratória! Você não sabe o que o sujeito fez para conseguir as Aspirinas.        Não sabe sequer por que faltaram Aspirinas. Ignora, aliás, muitas outras coisas neste mundo feito de dúvidas irremediáveis, mas algo, no caso, você sabe: que amanhã, naquela farmácia, haverá Aspirinas, com certeza!
     Se este farmacêutico não domina a arte da retórica, não sei quem poderia dominar.

antonioprata.folha@uol.com.br 
@antonioprata 
Crônica publicada na Folha de São Paulo - caderno cotidiano 12/10/11

Blog 'Crônica e Outras Milongas' 
antonioprata.folha.blog.uol.com.br

* * *
PS: Eu tenho várias coisas acumuladas aqui para postar:
- Contar um pouco da minha viagem e mostrar fotos das estátuas do Coliseu. Você já viu estátuas lá? Eu descobri.
- Contar do lançamento de uma coisa maravilhosa para nós mulheres, não, para os homens também, principalmente os que moram sozinhos. É uma Agenda de Casa, que ajuda e muito no cumprimento das tarefas do lar. Daqui a alguns dias. Acompanhe aqui.
- Você acha que combina? Michel Temer e os Menudos? Não? Pois você vai ver aqui também. Mais alguns dias.


beijos

14 comentários:

Misturação - Ana Karla 17 de novembro de 2011 às 13:53  

Uma crônica grandiosa, mesmo.
Retórica.
Xeros

sheyla xavier 17 de novembro de 2011 às 16:44  

Macá,
Sempre com coisas lindas... Espero sempre seus posts..
Bjão

Deia 17 de novembro de 2011 às 22:21  

Macá, que delícia de crônica! Perfeita para encerrar o meu dia! Um beijo! Deia.

ELAINE 18 de novembro de 2011 às 10:00  

Amiga, você só pode estar divinamente inspirada! Adorei teu blog! Já tô te seguindo! Vem me visitar também! http://elaine-dedentroprafora.blogspot.com/
Bjo no coração!
Elaine Averbuch Neves

Betty Gaeta 18 de novembro de 2011 às 18:54  

Oi macá,
Tb adoro Antonio Prta, mas fazia tempo que não lia nada dele, pois não estou mais assinando a Folha, mas sim o Estadão. Adorei a crônica.
Cheguei ao seu blog por acaso e estou gostando muito. Estou seguindo vc. Vou ficar muito feliz se vc me visitar e tb me seguir.
Tem sorteio de um colete e um short da Osborne Jeans lá no blog, se vc ainda não estiver participando, vou ficar feliz se participar.
Beijos 1000 e um final de semana maravilhoso para vc.

http://www.gosto-disto.com/2011/11/sorteio-osborne-jeans-osborne-jeans.html

Betty Gaeta 18 de novembro de 2011 às 21:41  

Oi Macá,
Obrigada por ter retribuído a visitinha. Adorei! É sempre bom ganhar uma nova amiga.
Beijos 1000 e um final de semana maravilhoso para vc.

www.gosto-disto.com

Iara 19 de novembro de 2011 às 00:09  

Macá, nunca tinha pensado nesses termos, mas que grande verdade tem ai.
Aguardo as novidades, e a agenda pra casa como preciso.
Abraços amiga

Beth/Lilás 19 de novembro de 2011 às 01:25  

Oi, Macá!
Este Antonio Prata tem uma retórica das boas mesmo.
Aqui no Rio é muito comum a gente procurar algo no comércio e o vendedor dizer quando não tem: "Vou ficar te devendo esta." - Odeio isso, oras! Como assim, devendo pra quando? hihi
Estou ansiosa pra saber que negócio é esse de estátuas que você andou vendo pelas Oropa.
beijinhos cariocas

Lúcia Soares 19 de novembro de 2011 às 21:48  

Macá, uma crônica deliciosa.
Curiosa pelas novidades.
Bom domingo!

Luma Rosa 19 de novembro de 2011 às 22:07  

Sempre leio o blogue do Antonio Prata e essa crônica é ótima! Antes de ler já havia reparado na resposta pronta dos funcionários das lojas, mas nunca parei para analisar essa "arte da retórica" ou enrolação mesmo!! (rs*) E porque amanhã chega, sempre retornamos à loja.
Aguardando os posts! Precisando urgente de uma agenda para a casa, a d. Rosa anda impossível!!
Bom fim de semana!! Beijus,

Iram Matias 20 de novembro de 2011 às 18:12  

Saudades de seu blog

Oi, querida!
Passei só pra te desejar uma lindaaa semana|
Beijos

Calma que estou com pressa! 20 de novembro de 2011 às 18:35  

oi Macá
é tud depende do jeito qe é falado - adoei esta -
eu sou ma destas clientes qe na vida tb sou assim - tudo depende do jeito que tu fala , diz o não , o sim...
muito boa
bj
lu

Cachola Literária 21 de novembro de 2011 às 20:01  

Olá,Macá!
Essa é a minha primeira visita ao blog.Vi seu link em outro blog e resolvi entrar para conhecer aqui! Amei e já tô seguindo. Seu blog é lindo demais!Sou apaixonada por crônicas e contos.Está é muito boa.Estou adorando conhecer o blog.
Te convido a visitar e seguir o meu blog também.Aguardo sua visita!
Bjs!
Zilda Mara
http://cacholaliteraria.blogspot.com/

ELAINE 22 de novembro de 2011 às 16:32  

Passei pra dar ôi e desejar uma semana abençoada pra você! Bjnho!
Elaine Averbuch Neves
http://elaine-dedentroprafora.blogspot.com/

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