O resgate das escovas milenares

>> quarta-feira, 11 de janeiro de 2012


Sair de férias é muito bom, quem não gosta? Geralmente encontramos pessoas que também estão de férias, então o astral está ótimo, quase não vemos pessoas emburradas, afinal quem sai de férias pra se estressar?
Aproveitamos para ler um bom livro, conhecer lugares, gente e comidas diferentes.
Na volta, estamos com uma nova carga de ideias e projetos para o novo ano que se inicia.
(Inicia agora ou só depois do carnaval?).
Mas, esta semana quando retornei, percebi que nessas duas ou três semanas ausente, senti falta de alguma coisa. Sabe quando a gente se acostuma a ler uma reportagem semanal e sente saudade da pessoa que escreve como se ela fizesse parte da sua vida?
Então, hoje eu percebi que estava com saudades da coluna do Antonio Prata no jornal.
Tudo bem, eu poderia ter procurado na internet, mas estava de férias dela também.
Férias são.................. férias.
Mas hoje ele está aqui novamente e eu já ganhei o meu dia.
(imagem Google)
"UMA ESCOVA de dentes pode levar até mil anos para se decompor", disse o narrador do documentário, e eu senti um aperto no coração. Não por conta do dano ecológico causado pela luta contra o tártaro e a placa bacteriana, mas pela imagem criada em minha cabeça: todas as escovas que já usei, fiéis companheiras por dois ou três meses, abandonadas em distantes aterros sanitários, junto a tomates podres, calotas rachadas e carcaças de geladeira; as cerdas espanadas balançando ao vento ou servindo de morada às larvas na escuridão, "per saecula saeculorum".
     As pessoas, quando morrem, morrem; as escovas, não. Ficam por aí. Desde a primeira que eu tive, aquela usada por minha mãe para limpar um único dente, em 1978, até uma Colgate branca e azul, que deixei no lixinho do banheiro em Paraty, no dia 2 de janeiro. Agora, sempre que fecho os olhos, vejo as pobrezinhas, condenadas a um milênio de solidão.
     Seria possível resgatá-las? Digamos que eu tivesse muito dinheiro, que eu fosse o Bill Gates e contratasse cientistas da Nasa, criasse ferramentas, pusesse uma legião de trabalhadores a peneirar lixões... Não, impossível, mesmo que encontrasse todas as escovas do país, em meio a sacolas plásticas, pitangas e Ataris, como saber se aquela TEK vermelha, macia, tamanho médio, modelo 1987, é a mesma que eu usei durante a quinta série ou outra qualquer? Só daria para identificá-las se eu tivesse marcado nos cabos, digamos, com uma ponta de faca quente, as minhas iniciais. Mas que tipo de pessoa faria uma coisa dessas?
     Taí: Kim Jong-un, o novo ditador norte-coreano, talvez seja capaz de recuperar suas escovas, caso queria. Ou você não acha que os ditadores têm escovas de dentes personalizadas, com seus nomes gravados, belas insígnias em dourado e frases encorajadoras como "Bom dia, ó raio de sol que brilha para o universo!"? Bastaria a ele, portanto, tirar umas 500 mil pessoas do campo e das fábricas e botar para garimpar os aterros do país, até que separassem, das montanhas de escovas proletárias, todas as escovas ditatoriais.
     Seria até bom para Kim Jong-un: uma meta, uma missão, totalitarismos precisam disso. O déspota poderia declarar que suas escovas de dentes são objetos sagrados, ou que, através delas, os sequazes do capitalismo conseguiriam obter seu DNA e criar um veneno para matá-lo. "Nem uma escova deixada para trás!", seria o slogan. Ou: "Até a última cerda!".
     Durante a busca haveria mortos contaminados por lixo hospitalar e atômico, por leptospirose e vítimas de inanição, claro, mas para estes seriam erguidas estátuas e se cantariam hinos, até o dia em que, décadas mais tarde, Kim Jong-un declarasse a busca terminada, e fizesse o Grande Museu das Escovas de Kim Jong-un, e o povo choraria de felicidade, pois saberia que, se fora capaz de recuperar todas as escovas do majestoso líder, seria capaz de tudo.
     Isso, o Kim Jong-un, claro, não eu, pois minhas escovas são iguais às de todos os outros, e ficarão mil anos por aí, em lixões em Sapopemba e Perus, e sobreviverão a mim, a você, aos ditadores coreanos, à própria Coreia e a sabe-se lá mais o quê. Ê, mundo estranho da porra!
Blog "Crônicas e Outras Milongas"
antonioprata.folha.blog.uol.com.br

beijos

8 comentários:

sheyla xavier 11 de janeiro de 2012 às 12:41  

Macá,
Férias é bom demais... Adorei o post, também fico com peninha de jogar minha escovita fora.. hihihi Deixo-a na área de serviço, porque ás vezes, sempre precisamos dela pra limpar àquela sujeirinha..Aff. Depois é que a jogo fora.
Bjosss, querida.
Sheyla.

Suzete Retti 12 de janeiro de 2012 às 18:42  

Oi Macá.
Lendo seu post, voltei a pensaar em quantas coisas descartamos e não sabemos o que acontecem com elas, se alguém pegou do lixo no portão ou do lixão, se ainda foi útil com o mesmo fim ou foi usado para um fim diferente, e quando foi novamente descartado se foi reutilizado por alguém. Quais alegrias ou tristezas causarem. Chega quase escrevi um post.
Te desejando um 2012 pleno de alegria, realizações e sucesso.Bjs.

Irene Moreira 12 de janeiro de 2012 às 22:41  

Olá Macá

Férias é gostoso de mais e acabam tão rápido não é?

Bem minhas escovas tem um casamento muito curto. Em menos de três meses já estou descartando e não dá para ficar com peninha.

Tempos atrás nossos laços de amizade eram mais fortes, mas hoje em dia procuro não me apegar.

Sempre bom estar por aqui.

Beijinhos

Dani Moura 16 de janeiro de 2012 às 12:23  

Oi Macá?!
Demorei mas cheguei e adorei tudo o que encontrei!
Muito legal esse post me fez lembrar de uma mandala de escovas velhas que vi uma vez no google!
Enfim tudo se recicla!rs
beijoo

Luma Rosa 16 de janeiro de 2012 às 17:31  

Nossa! Pra onde foram tantas escovas? Haveria de ter postos de reciclagem de escovas e estou cá imaginando "O retorno das escovas", já pensou?
Boa semana! Beijus,

ELAINE 18 de janeiro de 2012 às 03:09  

Passando p/desejar uma 4ªF abençoada! Aparece!
Abração!
Elaine Averbuch Neves
http:/elaine-dedentroprafora.com/

Socorro Melo 24 de janeiro de 2012 às 11:22  

Oi, Macá!

Férias é férias... Também penso assim, e procuro me desligar de tudo. E que bela crônica a do 0Antônio Prata! E haja criatividade, kkk

Paz e Bem!
Socorro Melo

Misturação - Ana Karla 24 de janeiro de 2012 às 18:44  

É isso aí Macá, férias são férias.
E começou bem com a crônica.
Pobre escovas.
Xerossssss

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