Pôncio Pilatos abre comércio em São Paulo

>> terça-feira, 12 de julho de 2011

Quem leu meu post anterior, deve ter percebido que eu não estava nada bem, mas.......


- é claro que melhorei (nem eu mesma me aguento quando estou pra baixo), e
- é claro também que não fui (nem tive a intenção de) no endereço citado pra resolver todos os problemas do mundo.


Sabe aqueles dias que você acha que todo mundo é mais feliz, mais bonito, mais rico, mais experiente, mais divertido, mais inteligente, mais, mais, mais do que você?
Que você é simplesmente um nada?
Então, são momentos que nos acometem, mas que passam. Então, obrigada a quem me enviou mensagens de conforto. Foram muito úteis.
E no domingo saiu na revista São Paulo (da Folha de São Paulo), esse artigo da Bárbara Gância, onde ela descreve como alguns atendimentos podem tirar a gente do sério:



"Gostaria de consertar este par de óculos, pode ser? É coisa simples, trata-se apenas de repor o parafuso que prende uma das hastes."
Com essa instrução singela, iniciei uma conversa com a funcionária da ótica do shopping. Imaginei que logo sairia dali para curtir a vida loucamente, mas estava enganada.
Aquilo era o começo da operação Pôncio Pilatos, em que a transferência de responsabilidade da empresa é jogada solenemente sobre os ombros do consumidor. Perceba a sutileza.
"Devo informá-la de que poderei danificar seus óculos ao tocar neles", disse a atendente em tom automatizado. "Não posso me responsabilizar se seus óculos se quebrarem enquanto eu estiver realizando o conserto."
Respirei fundo, olhei para a cara da indivídua (totalmente desfocada porque eu estava sem óculos) e mandei mais uma frase singela. "Estou contando com a senhora para consertar meus óculos, não para quebrá-los."
A mulher voltou com seu disco riscado: "Sou obrigada a informá-la de que posso romper a armação. Está preparada para correr esse risco?"
Pois é. Se dependesse da minha vontade, naquele momento eu estaria entuchando uma coxinha na Ofner. "Minha senhora", eu disse. "Faz 40 anos que compro nesta loja. Se vim consertar meus óculos, é porque confio nos seus serviços. Os senhores não podem se omitir dessa forma vergonhosa só porque pretendem antecipar alguma ocorrência desfavorável. Quem presta serviços ao público deve aceitar os riscos inerentes, incidentes são ossos do ofício. Não dá para jogar a sua responsabilidade nas minhas costas. Agora, por favor, conserte meus óculos que eu tenho pressa." Não deu dois minutos, lá estava eu cantarolando na rua de óculos reparados.
Mas, naquela noite, incorri novamente no mesmo tipo de fria. Pedi um táxi pelo telefone e a moça foi logo se esquivando: "Não temos táxi na sua área, acho melhor a senhora usar os serviços de outra companhia". Como assim "de outra companhia"? Sou cliente da cooperativa de táxi desde 1986 e gosto do serviço, conheço os motoristas, do que ela estava falando?
"Moça", supliquei, "São quase 23h, estou próxima de uma avenida movimentada, não é possível que não tenha um carro na minha área."
"Não tem, senhora, e não posso garantir que vá aparecer nas próximas horas", disse, querendo encerrar a conversa. Mas ponto final, ao meu ver, quem coloca é consumidor. "Quantas unidades tem a cooperativa?"
"Tem 400, minha senhora", respondeu, agora com menos conforto.
"Nesse caso, há de ter um táxi para mim. Não é possível a senhora me descartar com tamanha facilidade, sou cliente de vocês e não vou arredar pé."
Deu vontade de perguntar: "Posso falar com alguém mais inteligente do que a senhora, por favor?"
Não é que, dez minutos depois, um táxi apareceu do éter para me buscar?
Veja: não quero casar e ter filhos com as empresas às quais sou fiel. Mas existe um limite de envolvimento que deve ser respeitado. Como consumidora, espero ter minha fidelidade reconhecida, quando não recompensada. Se fazer respeitar no Brasil da abundância não é prática para iniciantes."



Barbara Gancia - barbara@uol.com.br


beijos

4 comentários:

Celina Dutra 12 de julho de 2011 às 19:08  

Se cada um de nós agisse dessa forma, mudaríamos muita coisa em menos tempo do que deixando tudo ao bel prazer dos prestadores de serviço (ou dos seus atendentes, o que é a mesma coisa).

Arriba o astral!
Girassóis nos seus dias!

Beijos

Beth/Lilás 12 de julho de 2011 às 19:14  

Ainda bem que você já está melhor, cara amiga!
Adorei o texto porque ele tem tudo a ver com o que vivemos no nosso dia a dia. Tanta gente que só quer vender, mas não se compromete com nada.
bjs cariocas

Irene Moreira 13 de julho de 2011 às 19:51  

Que bom que agora estás bem! Todos passamos por esses momentos e até que acho que tens muita calma.Quando estou pra baixo é bom ninguém chegar perto de mim porque fico com os nervos a flor da pele.

Confesso que como consumidora sou exigente e reinvidico os meus direitos. Sou até um pouco chata.

Concordo que a responsabilidade é de quem presta o serviço. E não aceitaria estes tipos de perguntas. Com certeza me tiraria do sério.

Adorei tua visita.

Beijos

Valéria Russo 13 de julho de 2011 às 21:15  

macá....
obrigada por suas palavras de apoio e carinho..
vc tem toda a razão, nada como boas amigas e muitas gargalhadas pra desestressar.
lí seu post...sabe que eu dei piti dia desses numa loja da qual sou cliente e fui trocar uma bolsa que dei de presente e o ziper escangalhou em dois dias...
ameaçei com policia e o código do consumidor, gerente apareceu do nada e resolveu o probelam que até então suas vendedoras estavam me tratando com descaso..
temos sim que bater o pé e exigir respeito por parte dos prestadores de serviços e lojistas. as pessoas estão com muito descaso como se elas estivessem nos fazendo um favor e não dando garantias de produtos e serviços pelos quais pagamos e caro.

adorei seu post.
bjuivos no seu coração.
que seus dias sejam muito especiais.
loba.

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