Blogagem Coletiva - Sentimentos e Emoções - MEDO
>> sexta-feira, 30 de julho de 2010
Ela morava numa casa grande e no quintal, também grande, tinha várias árvores frutíferas.
Uva, goiaba, manga, doce como o quê, mamão, banana, mas o que ela mais gostava era do pé de jabuticaba. Subia sempre, pra colher as frutas pra família toda, pra brincar e também quando queria fugir da mãe que queria lhe dar umas palmadas. Mas isso só acontecia se o pai não estivesse por perto. Ela era a caçulinha, estava com 8 anos e pouco, portanto era a queridinha do pai, que lhe trazia quase todo dia, um agrado como umas balas, pirulitos.
Ela, juntamente com os pais e os irmãos eram em 9 pessoas.
Na hora do almoço, com a família reunida (menos o pai que passava o dia no sítio) ficava quieta. Cada um falava sobre uma coisa. A irmã mais velha que trabalhava numa farmácia, a do meio que trabalhava num bazar bem em frente à casa do futuro namorado (e marido) e os irmãos que tinham montado uma pequena empresa.
Ela bem que gostaria de dar uns palpites, chegava até a tentar começar a falar, mas deixava pra lá porque já tinha ouvido por várias vezes o irmão dizer que ela era criança, não tinha nada que dar palpite nas conversas.
A casa não lhe assustava, e nem o quintal – durante o dia – porque à noite! Ela morria de medo, e nada fazia com que fosse à área, onde tinha uma linda parreira de uvas, logo depois da sala, quando escurecia. Se tivesse que ir, alguém ia junto.
E um dia, à tarde, sua mãe lhe pediu que fosse comprar umas coisas no açougue que ficava a 4 quadras da sua casa. É, nesse tempo uma criança de 8 anos podia sair sozinha sim. Já sabia ir e voltar direitinho.
E lá foi ela, pés no chão, tomando cuidado para atravessar as ruas (sua mãe sempre lhe dizia isso, mas se bem que nem muito trânsito tinha). Quase chegando viu que o céu começava a escurecer, mas e daí? Comprou as coisas, e ia voltando, tranquila, e o céu cada vez mais escuro, até que chegou na quadra anterior a casa e percebeu que tinha virado noite.
Assustou-se e correu. Quando estava chegando ouviu um barulho tremendo e correu mais até alcançar a soleira da porta. Subiu no degrau que era a porta da casa e começou a bater e gritar pela mãe. Aquele barulhão chegou mais e ela viu pedras por todo lado. Era uma chuva imensa de granizo, e aquelas pedras batendo no chão faziam um barulho ensurdecedor.
Ela batia, gritava até que uma pedra atingiu-lhe a cabeça e aí ela começou a chorar.
Porque a mãe não respondia? Porque não abria a porta?
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Na casa dos vizinhos ao lado, onde a mãe tinha corrido, porque morria de medo de temporal, a situação também não era boa. Todos preocupados com a garota que estava na rua embaixo do temporal. A mãe desesperada tentava abrir a porta, mas o vento não deixava. Tentava de novo, espiava pela fresta, mas não via nada.
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De repente, fez-se um silêncio. As pedras pararam de cair e a menina correu até a casa do vizinho pra tentar se abrigar. Machucou os pés descalços na corrida, mas alcançou a porta e na primeira batida lá estava sua mãe que a abraçou fortemente para tentar aplacar o susto.
Quando deu por si, um cheiro forte de álcool no nariz, dois galos enormes na cabeça, e todos a sua volta.
O susto demorou mas passou, o medo do quintal escuro diminuiu, mas até hoje, sempre que o céu escurece e um temporal ameaça chegar, ela prefere ficar dentro de casa.
Se sente mais protegida.
Essa postagem faz parte da Blogagem Coletiva - Sentimentos e Emoções, proposta pela Glorinha do blog Café com Bolo. Publicaremos os posts às sextas-feiras, e a primeira é hoje - 30/07 - onde falaremos sobre o Medo.
E você já está participando? Não??? Então corre lá no blog dela, se inscreve que ainda dá tempo.
beijos